José Leite de Vasconcelos, fundador e primeiro director do actual Museu Nacional de Arqueologia escreveu no programa do Museu Etnográfico Português que “não se pode traçar por completo a história de um país, sem se conhecer a vida íntima d’este, revelada nos usos, crenças, trajos, mobílias, utensílios, formas de arte, numa palavra, em mil particularidades em que o espírito se vae reflectindo e assignalando através dos tempos e que contribuem para que um povo se distinga de outro” (Hist. Museu Etn. p. 16). Nas palavras deste ilustre arqueólogo é bem patente a importância que deu à criação e enriquecimento da colecção de Etnografia, ao longo de todo o seu mandato. Para José Leite de Vasconcelos, porém, as colecções etnográfica e arqueológica constituem “um todo indissociável”, segundo a expressão de alguns autores (Sardinha e Longo, OAP, 17, 1999, p.127). É o próprio Leite de Vasconcelos que escreve “torna-se difícil, para não dizer impossível, estabelecer sempre distinções nítidas entre Etnografia e Arqueologia (…)” (Hist. MNA p. 201).
No programa de 1893-1894, José Leite de Vasconcelos integra a colecção etnográfica na Época Portuguesa Moderna (Hist. MNA, p. 44) que subdividiu em treze pontos. Posteriormente, quando da instalação do Museu nos Jerónimos, a secção etnográfica do museu Etnológico ocupou quase todo o pavimento III e os conjuntos foram reordenados “provisoriamente”, segundo as palavras de José Leite de Vasconcelos, em X secções: I. Alimentação; II Casa e seu arranjo; III. Épocas e circunstancias da vida do indivíduo e da família: trilogia da vida; vestuário e cousas correlativas; vícios de fumar e cheirar; IV. Aspectos vários da evolução da humanidade: caça, pesca, pastoreio, agricultura; V. Religião e Magia; VI. Vida intelectual propriamentedita: escrita; escola primaria; literatura de cordel; vida académica de Coimbra; historia do livro; jornalismo; sciencia; arte; VII. Industria; VIII. Vida social em geral; folganças; actividade comercial; metrologia; historia do correio; papel selado; heráldica; milícia; historia de Portugal; IX. Vária; X. Etnografia insular. As diferentes secções estavam representadas em grupos de objectos, num total de trinta e cinco, no qual se incluem, entre outros, bordões; vestuário e adereços; objectos de arte pastoril; louças antigas; azulejos; heráldica e brasões; pinturas antigas; utensílios de fumar e cheirar tabaco; objectos representativos da vida agrária; armas e armaduras; tear, pesos de tear, fusos, etc.; tinteiros, pergaminhos; brinquedos infantis, jogos; gravuras portuguesas antigas; “registos de romagens” (lendas religiosas); ex-votos; vários objectos religiosos; amuletos e veronicas; collecção de ex-libris antigos e modernos; utensílios para caçar e pescar; objectos correlacionados com a alimentação; pesos medidas e relógios; ferragens.